Dia da Consciência Negra: música, poesia e resistência na Casa de Cultura

Na última quarta-feira (20), dia da Consciência Negra, que marca anualmente a morte do líder Zumbi dos Palmares, a ocupação Denegrada tomou conta da Casa de Cultura Marielle Franco e da Praça das Artes Kléia Alves.

O projeto foi concebido e organizado pela Rock Cultura Negra, Lado B Produções Artísticas e Baciada da Mulheres do Juquery, com apoio da prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer.

Para esquentar os tambores, o Bloco da Casa Velha, abriu o evento com uma apresentação contagiante.

Pâmela Gabrielle, uma das organizadoras, apresentou falou ao público sobre a importância da presença de todos ali, celebrando e reconhecendo o simbolismo da data para um local como a Casa de Cultura que leva o nome de Marielle Franco e da Praça Kléia Alves, mulheres negras, de luta e resistência.

No espaço havia uma tenda dedicada às crianças disponibilizando papéis e lápis para colorir, além de livros de literatura infantil, com foco em personagens negros e histórias do continente africano, berço da humanidade.

Quem passou pela ocupação também pôde se enfeitar com a oficina de turbantes, símbolo da cultura negra e africana. Oferecendo tecidos de diversas cores e estampas, o público aprendeu diferentes amarrações para o ornamento.

Em seguida, os participantes se organizaram em roda no meio da praça para dividir experiências de vida e militância. A professora Rosângela de Barros falou sobre o empoderamento das mulheres negras por meio da valorização da autoestima, especialmente os cabelos crespos, por tanto tempo reprimidos por duros padrões que oprimem e aprisionam as mulheres. Texturas, curvaturas, tranças, volumes, diferentes formas e penteados podem e devem ser usadas pelas mulheres. De acordo com Rosangela, ostentar seus cabelos, tal qual uma coroa, também é uma forma de resistência. “Nossos cabelos são lindos. Deixem-nos livres como devem ser”, exclamou.

Depois, o grupo Infinity Move Crew ganhou o espaço da praça com uma exibição da performance “Lembranças”, criada pelo professor Will Bento.

Entre as apresentações o público declamava poemas de autores negros com história na militância como Jarid Arraes e Conceição Evaristo, além de outros de autoria própria, como o skatista Simon Denis, que fez uma belíssima rima com a cidade de Franco da Rocha.

O grafite, arte que tem em sua essência a tomada dos espaços públicos, também esteve disponível em um paredão plástico, disponibilizado para quem quisesse expor sua arte.

Tânia Seles, administradora das páginas Las Pretas e Sopa Alternativa, especializadas em artes visuais, música, cinema, HQs e cultura pop, contou a trajetória de mulheres que fizeram história na música e no rock’n’roll e, que infelizmente, não têm seus nomes reconhecidos pela indústria musical. Uma delas é Tina Bell, líder da banda Bam Bam, pioneira do estilo grunge na década de 1980.

E por falar em música, a ocupação Denegrada também levou ao palco uma das principais bandas do underground brasileiro, a Asfixia Social. Vindos de Diadema, região do ABC de São Paulo, o grupo deixou seu recado com letras que retratam o cotidiano das periferias, resultando uma mistura única entre rap, punk, ska, dub, hardcore, jazz, raggae, funk, metal.

Chai, do grupo de rap formado por mulheres Odisseia das Flores, deu seu recado com rimas e versos que exaltam a figura feminina, cantando contra o machismo e a misoginia.

Na sequência, a banda O Mandruvá mostrou seus principais sucessos no palco da praça. Formado em 2003, o grupo utiliza elementos do rock, funk, soul, rap, reggae, hardcore e muita cultura brasileira. Fazendo coro a fala de Tania Seles, o vocalista Clemente Nascimento, fez questão de falar sobre identidade da banda. “Durante muito tempo as pessoas esqueceram que o rock começou com cantores negros, e infelizmente tentaram apagar essa identidade da música negra. Mas nós somos uma banda de rock’n’roll formada por músicos negros e estamos aqui para lembrar isso”, encerrou.

Encerrando o dia, a banda AudioZumbi convidou o público para curtir sua melodia que une o metal e o rap com letras que são classificadas pela banda como “som de protesto”, escancarando a realidade da periferia brasileira para resgatar o pensamento crítico do povo.

Ao final, Pâmela deixou um recado para os presentes. “Precisamos ser fortes, porque a luta contra o racismo permanece, nas diferentes instâncias e instituições, pois ainda queremos protagonizar um filme de vitória, precisamos viver para isso”, encerrou.

(Texto: Luana Nascimento – Foto: Orlando Junior)


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