Conheça Nayara Oliveira, técnica das categorias de base de futebol e futsal de Franco da Rocha

Nayara é a única mulher na região do CIMBAJU a treinar atletas a partir dos cinco anos de idade

A prática esportiva, principalmente do futebol, sempre esteve ligada à figura masculina, seja na atuação como atleta, na gestão, departamento médico ou qualquer outro cargo que por anos foi majoritariamente ocupado por homens. 

Em Franco da Rocha, metade da pasta da Secretaria de Esportes é composta por mulheres que se destacam independente da modalidade. De 56 profissionais, 28 são mulheres. Entre elas, está a técnica das categorias de base de futsal e futebol, Nayara Oliveira.

Este mês, que é dedicado à celebração do Dia Internacional da Mulher, também possui outro significado à professora. Além de ser o mês de seu aniversário, março também representa os cinco anos de dedicação às crianças do município, quando Nayara passou a trabalhar nos campos e quadras da cidade.

Franco-rochense do Parque Paulista, Nayara iniciou sua trajetória esportiva aos 13 anos de idade na quadra da avenida Itararé. A única menina entre aproximadamente 60 meninos foi artilheira de um dos campeonatos que participou e, impulsionada pelo seu professor, fez testes na região e passou a jogar por Caieiras, onde disputou os jogos regionais e foi campeã no campo e no salão.

Além da vida como atleta, Nayara se formou no curso de Educação Física e é pós-graduada em futebol e futsal. Antes de ser efetivada, Nayara participou de um trabalho voluntário na cidade durante a faculdade.

“O que me marca é o retorno que temos das crianças”

Na região, Nayara é a única técnica que trabalha com garotos das categorias de base e Franco da Rocha é destaque na região pela exclusividade em disponibilizar aulas de futebol para crianças nascidas em 2018. “Estamos bem à frente. A cada categoria você vê o crescimento da criança. Ver esse desenvolvimento desde os cinco anos de um aluno é fundamental e só tem em Franco. Não tem times da região de crianças dessa idade para disputar com as crianças daqui, nós somos o único município na região que tem essa categoria”, comentou.

A técnica demonstra ter grande paixão pelo trabalho que realiza na cidade. Para ela, em cada jogo surge um motivo de alegria ao saber que muitas crianças que estão ali foram inseridas por algum projeto ou moram em bairros mais distantes e têm a oportunidade do acesso a momentos de lazer.

Por outro lado, apesar das conquistas do dia a dia, Nayara já passou por muitas dificuldades ao se apresentar como uma mulher que atua no mundo do futebol. 

“As pessoas duvidam de você, acreditam que você não vai aguentar e até apostam que você não vai conseguir ficar no seu cargo”

Nayara acredita que quando se trata das mulheres, o trabalho precisa ser feito com a intenção de provar algo. Na pós-graduação e nos cursos que participou sempre notou as salas preenchidas por homens, mas acredita que essa situação esteja mudando.

“Você vê o Brasil no futebol feminino um time diferente, mais sólido, que está jogando de igual pra igual contra várias potências mundiais. Acho que agora existam mais técnicas no futebol, mais preparadoras físicas, mais médicas, e a tendência é aumentar. Agora o Campeonato Brasileiro tem muitos times e mais séries. Estamos no caminho, mas ainda longe de nos equalizarmos ao que é o futebol masculino. Ainda há muito preconceito, mas não podemos desistir”.

Em Franco da Rocha, as mulheres representam 62% das pessoas atendidas pela Secretaria de Esportes. Segundo a professora, depois da Copa do Mundo Feminina, muitas meninas demonstraram interesse em praticar algum esporte e isso é um reflexo do que é visto na TV e nas redes sociais. “Os Estados Unidos é o país com maior número de brasileiras jogando, mais ou menos 13, o que antes era algo inacreditável. No município, tínhamos essa questão das mães estarem maior parte do tempo cuidando dos filhos, da casa, e deixavam de vir participar das atividades. Essa é uma questão que está mudando, porque as mulheres merecem e precisam participar de atividades de lazer, de ter momentos de cuidado, momentos para elas”, acrescentou.

Na escolinha, a professora busca sempre reforçar para as meninas que elas devem se manter firmes no que elas gostam de fazer, além de manter os meninos sempre inseridos na discussão. Porém, Nayara aponta que condições externas acabam sendo um problema para as garotas. “Os meninos têm mais liberdade para pegar ônibus e ir aos treinos, ir andando sozinhos. Já as meninas não tem essa liberdade por questão de segurança, uma questão social, mas buscamos incentivá-las a participar de outras modalidades nos polos mais próximos de suas casas”.

“Pra ser atleta você precisa ser bom aluno, bom filho, uma boa pessoa”

Por lidar com os pequenos, Nayara explica que o seu ensino vai além dos conceitos do esporte. Com as crianças, ela começa com a metodologia inicial, trabalho de recepção, passes, joguinhos. Entretanto, para fazer parte dos treinos, a técnica exige analisar o boletim escolar de cada um. “Nós pedimos o boletim escolar das crianças para poderem participar dos treinos, campeonatos e competições internas, como o Menino de Ouro, e as notas precisam estar boas. É um incentivo e melhora a relação entre escola, esporte e o social”.

Em agosto do ano passado, a Prefeitura, por meio da Secretaria de Esportes, realizou uma peneira de futebol para o São Paulo Futebol Clube direcionada às categorias sub-11, sub-13 e sub-15. O município recebeu dois olheiros do clube paulista para analisar os atletas franco-rochenses. A técnica Nayara expressou que esse tipo de oportunidade representa um ponto inicial muito importante. ”Dez meninos foram bem avaliados e receberam elogios dos treinadores. Tivemos um bom retorno dos olheiros e dos pais. Os meninos entenderam como se eles estivessem fazendo um teste lá em Cotia”.

“O ano promete”

Neste ano, o futebol de Franco já tem muitos compromissos. Os atletas de todas as categorias estão participando de amistosos como uma preparação para o campeonato da Associação Paulista de Futebol, para os Jogos Abertos da Juventude, os Joguinhos, competições internas e muito mais.

Hoje, com 29 anos, Nayara simboliza um avanço da participação feminina dentro das quatro linhas. Ela, como tantas outras profissionais do município, está abrindo caminhos para as próximas gerações de mulheres que podem e devem estar onde quiserem.

Texto: Lívia H. Magalhães – Foto: Orlando Júnior


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